“Marília de Dirceu, até onde nos contam é a história de uma jovem moça, que se deixa seduzir por poemas de um forasteiro português. Dias antes de seu casamento, o poeta e seus amigos são presos. E por toda a vida, a moça esperou a volta de seu amado.
(...)
Porém se os justos céus, por fins ocultos,
em tão tirano mal me não socorrem;
verás então, que os sábios,
bem como vivem, morrem.
Porém se os justos céus, por fins ocultos,
em tão tirano mal me não socorrem;
verás então, que os sábios,
bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo,
tu, formosa Marília, bem o sabes:
um coração..., e basta,
onde tu mesma cabes.
(...)
tu, formosa Marília, bem o sabes:
um coração..., e basta,
onde tu mesma cabes.
(...)
Mas afinal de quem estamos falando?

Tomás Antônio Gonzaga nasceu no dia 11 de agosto de 1744, na
Cidade do Porto, Portugal. Seu pai João Gonzaga, natural do Rio de janeiro, e
sua mãe Tomásia Isabel Clarque, natural da Cidade de Porto. Tomás ficou órfão
de mãe e veio ainda menino morar com seu pai no Brasil. Seguiu para a Bahia,
onde estudou no colégio dos jesuítas até 1759 (quando a Companhia de Jesus foi
expulsa do Brasil a mando do Marquês de Pombal), retornou a Portugal para
estudar na Universidade de Coimbra, e em 1768, colou grau de bacharel em leis.
No fim de 1782 Tomás retornou ao Brasil (neste período Maria
Doroteia era uma moça de 15 anos, enquanto Tomás já tinha quase 40),
frequentando a casa de seu amigo advogado, Tomás conheceu sua sobrinha. Uma
moça belíssima pelo retrato que dela fez o poeta.
Gonzaga compôs muitas liras para seduzir sua amada,
nomeando-a de Marília e a se de Dirceu.
Por anos os dois apenas namoraram, pois Tomás estava
envolvido nas conspirações contra a Coroa Portuguesa. O movimento foi
denunciado por Joaquim Silvério dos Reis em 15 de março de 1789. Em 20 de abril
Gonzaga pediu licença ao Visconde de Barcena, e marcou seu casamento para 30 de
maio. Ainda em maio (quando Maria tinha apenas 21 anos e seu namoro com Tomás
cerca de 6), os inconfidentes foram denunciados e presos. Tomás ainda passou 3
anos preso no Rio de Janeiro, aguardando julgamento. Durante esse período
escreveu a segunda parte de seus poemas dedicados a Marília.
Em sentença de 20 de abril de 1792, Tomás foi condenado a dez
anos de degredo no Moçambique. Ele refez sua vida, e no depoimento para
casar-se com Juliana de Sousa Mascarenhas (09 de maio de 1793), declarou “que
nunca dera palavra de casamento a pessoa alguma”. Teve dois filhos : Ana e
Alexandre Mascarenhas Gonzaga. Adoeceu em 1809 e morreu em Moçambique no inicio
de 1810.
Maria Doroteia continuava em Minas Gerais (a esta altura, tinha
42 anos) e já vivera muitas experiências na sua vida sem Tomás. Apenas com a
sina de esperar a volta de seu amado.
A fama do livro “Marília de Dirceu” se espalhava. Com
constantes reedições do livro a fama da a fama da personagem Marília apenas
alastrava-se e fazia com que as pessoas passassem a frequentar Vila Rica em
busca da musa inspiradora daquela magnifica obra. Popularidade que talvez
soasse estranha para Maria Doroteia, ser reconhecida por poemas escritos a
tanto tempo e por um amor não concretizado.
Em 1836, com 69 anos, ela assinou seu testamento. Maria
Doroteia era madrinha de batismo de Anacleto, mas alguns autores afirmam que
ele era filho ilegítimo dela com um homem chamado Dr. Queiroga.
Essa história gerou polêmica entre pesquisadores e descendentes
de Maria, uns para manter a imagem de pureza e virgindade da moça que se tornou
musa da inconfidência mineira, outros pelo direito da mulher de reconstruir sua
vida com outro homem.
Temos que concordar que mesmo no clima da inconfidência mineira,
não é todo dia que se deixa uma criança na casa de alguém e uma amiga resolve
amadrinhar e cuidar, sendo que Maria poderia muito bem ter escondido sua
gravidez, “criado seu filho” e mantido sua fama de donzela, já que no mesmo
período passou semanas em uma fazenda da família.
Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, nota de falecimento: “Faleceu
o major Pedro Queiroga, neto de Marília de Dirceu, vitima de lesão cardíaca.”.
A nota de 1893 só abre mais lacunas para os segredos de Maria Doroteia.
Maria Doroteia morreu aos 84 anos, no dia 10 de fevereiro de
1853. A noticia da morte foi acompanhada de uma nota assinada por uma prima
sua: ”Maria Dorothéa era dotada de espirito vivo e elegância natural; tinha
bons ditos, respostas prontas e adequadas; lembranças felizes, que faziam apreciável
sua conversação sempre adubada de sal ático, que também a fazia muitas vezes temível,
quando propendia para o sarcasmo, que praticava com a maior graça e firmeza.”.
Ao ler-se essas afirmações vemos uma Maria Doroteia um pouca diferente daquela
descrita por Tomás, que não apresentava só beleza e graciosidade, mas também inteligência
e firmeza.
A morte só fortalece os mitos. E essa história pode está
cheia dele, a cada dia novas questões que só crescem e espalham-se. Por que
Maria Doroteia morreu, mas Marília é imortal.
A obra Marília de Dirceu ultrapassou o período romancista. Em
1944, o residente Getúlio Vargas repatriou os restos mortais dos inconfidentes.
E em 1955, os restos mortais de Maria
Doroteia foram levados para o museu da inconfidência, com o objetivo de ficarem
juntos com os de Gonzaga. Lá estão esposto a apreciação Pública. Finalmente
juntos, Marília e Dirceu.
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